Helena

Por Eliana Haberli

Helena fez oito anos, ninguém mais segura. A sabida está lá, dona da sua vida e do seu tempo, cheia de ideias e de certezas. Uma coisa não mudou na sua rotina ao longo dos últimos anos. Observação curiosa de tudo o que faz seu irmão nove anos mais velho. Tudo que ele faz, tudo que ele fala e tudo que ele possui.
Como não podia deixar de ser, Helena investiga os livros do irmão no alto da prateleira do corredor. E acha as biografias dos nomes importantes da História, da Ciência e da Literatura. Da Vinci, Napoleão. Epa, uma capa lhe chama a atenção. Einstein. É esse que ela quer ler.
De livro na mão todo o tempo disponível, começa a desvendar a história do gênio da Física. Os pais comentam. “Helena, esse livro aí você não vai entender direito. ” Helena continua impávida a sua leitura. “Helena, esse livro não está chato demais? ” insiste a mãe. “Não”, responde a menina. “É maravilhoso, energia e velocidade, muito legal! ” O irmão mais velho chega e tenta roubar o livro das mãos da menina. Arrebenta uma guerra de puxões de cabelo e chutes. O irmão desiste, está acostumado a perder ao ouvir o mantra “deixa sua irmã, ela é pequena”.
O livro passa a ser leitura de todos os momentos. Chega a hora de ir para escola. “Vamos almoçar, Helena, a perua vai chegar. ” Helena não larga o livro-maravilha.
A Geralda, que sempre acompanhou a menina, que penteia o seu cabelo e separa suas roupas, se atrapalha com a teimosia. A menina diz que só almoça se a babá ficar lendo para ela o livro que não consegue largar. Geralda pacientemente tenta ler. Acha as palavras difíceis, lê da forma que acha melhor.
Helena se cala, mas cochicha para o pai. “A Geralda é legal, mas Einstein não dá pra ela. ”
Na volta da escola, até à noite, Helena não desgruda do livro. O pai chega e estranha mais uma vez essa “fissura”. Livro do lado do banho, livro na cama à noite até as pálpebras caírem, vencidas, que coisa.
Finalmente, ufa, Helena termina a leitura. Aí se dedica a desenhar um gráfico, com toda a atenção. E leva o gráfico, vitoriosa, para o pai. Uma linha curva para o alto à direita. Uma linha reta à esquerda. As palavras “energia” e “velocidade” bem destacadas e alguns números explicativos, 10 mais 10= 20, sendo 10 da energia e 10 da velocidade.
“Olha, papai, um presente para você entender melhor a equação de Einstein. ”
Helena vai para o leito, tranquila.

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